Liberdade de Informação: e o direito que os cidadãos têm de ser informado de tudo que se relaciona com a vida do Estado, e que, por conseguinte é de seu peculiar interesse. Esse direito de informação faz parte da essência da democracia. Integra-o a liberdade de imprensa e o direito de ser informado. Artigo 5º inciso XXXIII, da Constituição Federal. Prof. Franscisco Bruno Neto.

11 de setembro de 2010

CHICO BUARQUE E O PT.

Revista Veja. Edição 2181, -9/09/2010.
A obra de Chico e a obra do PT se encontram. Chico não se incomoda.  
Um pouco de Chico Buarque dito por ele mesmo em entrevista a Revista TRIP:

"Mas eu fico um pouco espantado com o grau de agressividade das pessoas. Eu conheci o grau de agressividade do PT, sei como é. Eu já falava isso, tem muito chato neste PT. Ficam enchendo o saco da gente, enchendo o saco dos artistas, cobrando isso e aquilo. Isso acho até que vai acabar um pouco, porque acabou a idéia de que o PT é um partido superior aos outros". Chico Buarque.

(...)


Como foi sua experiência com as drogas?  Experimentou um pouco de tudo?

Chico Buarque - Não experimentei tudo. Nunca fui na heroína, nunca me piquei. Foi o básico: fumei, cheirei, tomei ácido. E larguei isso tudo. Na verdade nunca fui um bom maconheiro. Eventualmente posso até fumar. Por exemplo, já me foi recomendado para dormir, eu tenho esse problema de insônia. Mas não dá certo comigo. Não me dá leseira, nem larica. Me deixa excitado. Aí eu preferi a cocaína, mas parei também, parei há muito tempo. Maconha ainda posso eventualmente fumar aqui e ali, não vejo muito mal. Mas não sou adepto.

Você é a favor da legalização de alguma droga?

Chico Buarque - Sou. E cada vez mais. No Brasil, nos países pobres principalmente, a quantidade de vítimas que o tráfico de drogas faz é muito maior que a de vítimas das próprias drogas. No Brasil, no Rio de Janeiro, moleques de nove, dez anos já estão cheirando cocaína, porque manejam, vendem cocaína. Envolve às vezes uma quantidade muito grande de crianças, adolescentes, acaba com a vida dessa gente, morre gente pra burro. Fora a violência toda que o próprio tráfico vai desencadeando. É claro que você não pode pensar em liberar abertamente o consumo de drogas se não tiver um interesse internacional. Senão, cria-se um problema. Você pode ir a Amsterdã e fumar sua baga na e tal, mas não pode sair de lá com o negócio. Se produzissem legalmente cigarros de maconha, se fossem vendidos nas tabacarias, no Brasil, como aliás digo numa música,não vejo que o dano... quer dizer, haveria, claro, um problema de saúde pública, como com o cigarro, como com as drogas farmacêuticas, o consumo de álcool. Há pessoas que entram na viagem e podem virar maconheiros, se tornar inúteis, mas podem se tornar meros consumidores de maconha e ter uma vida completamente normal. Não há comparação com a quantidade de vítimas que o tráfico traz. E mesmo a cocaína. Cocaína é barra-pesada, eu não recomendo a ninguém. Antigamente se vendia cocaína em farmácia. Descriminalizar ou comercializar de alguma forma com assistência médica, com licença ou isso e aquilo, não sei como se chegar a isso. Certamente, há alguma maneira melhor do que permitir que se trafique, porque isso é permitido, todo mundo sabe que há conluio da polícia, e um tráfico aberto faz um número de vítimas muito maior.

Como é sua relação com a política hoje? Você já disse experimentar um certo fastio da política.

Chico Buarque -  Não vejo grandes novidades na política. Nem vejo muito espaço para grandes mudanças, sinceramente. Já não alimentava grandes ilusões de grandes mudanças com o governo Lula. Achava bonito isso, de ele ser eleito. Bom para o país um operário ser eleito e chegar à presidência da República. Mas também não achava que íamos ter transformações profundas na sociedade. É difícil. E agora ficou provado que é mais difícil até do que se imaginava.

Crises do mensalão, CPIs sobre corrupção, a queda do ministro Antonio Palocci, eleições se aproximando... Como você vê esse momento do Brasil e do governo Lula em particular?

Chico Buarque - Não vejo com nenhuma satisfação especial. Não é assunto que me entusiasma, não. Mas,enfim, fazer o quê? Podemos falar disso também, até porque as pessoas estão muito exaltadas. Não sei por que as pessoas estão tão exaltadas assim. A argumentação política cedeu lugar a ofensas pessoais, e parece que isso vai se agravar nestes meses que vêm por aí. Não há muito argumento. Porque no fundo, no fundo, honestamente, não vejo como um próximo governo, com quem quer que seja eleito, possa ser muito diferente desse governo Lula, assim como o governo Lula não foi muito diferente dos governos que o antecederam. As notícias de corrupção, mensalão estão na ordem do dia porque são mais recentes, mas elas também repetem práticas similares de governos anteriores. Todo mundo sabe disso. Claro que o governo do Lula é mais vulnerável hoje porque é a vidraça, porque o próprio PT ajuda a jogar pedra na sua vidraça, ao contrário dos partidos mais conservadores, que, por mais que se debatam lá dentro, não saem atirando uns nos outros. Eu fico vendo este pessoal do PSDB e do PFL indignados na TV. Peraí, vamos falar sério, né? Vocês não podem estar tão indignados, surpresos com o nível de corrupção, que não é maior do que foi no governo anterior. Todo mundo sabe como foi conseguida a malfadada reeleição presidencial [do FHC], que é nociva, na Constituição. Todo mundo sabe o que aconteceu, as falcatruas, as tentativas bem-sucedidas de abafar CPIs. Então fica reduzido a quê? O sujeito gosta deste ou gosta daquele. Ou tem simpatia ou alguma vantagem pessoal a levar com governo tal. Eu não tenho isso, não quero proximidade nenhuma com poder nenhum. Mas eu fico um pouco espantado com o grau de agressividade das pessoas. Eu conheci o grau de agressividade do PT, sei como é. Eu já falava isso, tem muito chato neste PT. Ficam enchendo o saco da gente, enchendo o saco dos artistas, cobrando isso e aquilo. Isso acho até que vai acabar um pouco, porque acabou a idéia de que o PT é um partido superior aos outros. Agora, também não vejo por que nesse clima que se instalou no país as pessoas se sentem no direito de ofender o Lula, de enxovalhar. Qualquer um vai para o jornal e manda "e o Lula?", "é um merda", "é um bosta" . As pessoas não gostam que se diga, mas isso evidentemente traz um preconceito de classe muito forte. São pessoas que não admitem, até hoje não engolem o fato de o Lula ter sido eleito, ter ocupado o Palácio da Alvorada, ele com a dona Marisa. Então, se na próxima eleição os candidatos forem o Lula, o Alckmim, talvez o Garotinho e uma dissidência à esquerda, eu voto no Lula até por isso. Não posso dizer que estou satisfeito com o governo dele, mas não vejo vantagem nenhuma no governo voltar às mãos do PSDB e do PFL. E, se o Lula for reeleito, acredito que ele, ao contrário do Fernando Henrique, possa fazer um segundo mandato melhor do que o primeiro. Até porque estará livre de uma porção de malas e de gente que atrapalhou. Ele vai ter de governar mais, escolher as pessoas, estar mais atento, mais presente. Mas não gosto da idéia de ele sair escorraçado, pela porta dos fundos, as pessoas xingando, quando não fizeram isso com o Fernando Henrique, nem com o Collor ou o Sarney.
(...)
Fonte: http://www.chicobuarque.com.br/texto/entrevistas/entre_trip_0406.htm
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Agora um Chico Buarque descrito por Reinaldo Azevedo.

"Chico é um idiota político. Foi e ainda é propagandista de uma das ditaduras mais assassinas da terra: a de Fidel Castro, em Cuba. " Reinaldo Azevedo.

14/07/2009  às 5:53
Reinaldo Azevedo
CHICO BUARQUE. OU: CHUTE DEUS, MAS PRESERVE O CHICO

Lá vou eu dedicar um pouquinho das minhas férias a Chico Buarque…

Em 1991, fiz uma resenha de Estorvo, o primeiro romance de Tchico. Quase ao mesmo tempo, Bruna Lombardi lançara Filmes Proibidos. Pediram-me uma resenha de ambos. Lembro que fiz uma piada mais ou menos assim: se é pelos belos olhos, o livro de Bruna é - e é mesmo! - muito melhor. Mas ela foi recebida com o ceticismo que se pode imaginar; ele, com o embevecimento costumeiro e a reverência injustificada da crítica. Estorvo é um livro chato e pretensioso. Desisti do “Chico-enquanto-romancista”. Cai em tentação, anos mais tarde, com Budapeste, ainda mais festejado. E ainda mais chato e mais pretensioso. E fiquei e ficarei nesses dois. Chico não sabe o que é romance — ou, mais amplamente, prosa de ficção. Não como autor ao menos. Ignora as ferramentas para construir uma personagem e tenta compensar a falta de carpintaria com uma linguagem supostamente densa, enfileirando metáforas que conferem à narrativa cediça uma aparência de profundidade filosófica, misturando doses de melancolia de apartamento, pessimismo blasé e desconstrução de moderno romance francês. A parada é indigesta. Sigamos. E vamos começar a desmisturar as coisas para desmitistificá-las.

Chico é um idiota político. Foi e ainda é propagandista de uma das ditaduras mais assassinas da terra: a de Fidel Castro, em Cuba. Não! Isso não faz dele um mau romancista. O que o torna um mau romancista são seus romances ruins. Sua parvoíce ideológica também não compromete a qualidade de suas músicas — das líricas, ao menos, não; as políticas são de doer. Já o critiquei aqui várias vezes e levei porrada de todo lado — e a mais usual, evidentemente, é o famoso “quem é você para criticar Chico Buarque?”. Como, para quem faz tal indagação, ninguém está à altura do ídolo, pouco importa o que ele diga ou faça, a única atitude aceitável é a reverência. Reitero: todas as vezes em que o critiquei, o que pode ser constatado no arquivo do blog, eu o fiz em razão de declarações políticas que ele deu. Não buli com o que chamam, tolamente, a sua “poesia”. Não que não pudesse fazê-lo. Como “poesia”, elas resistem pouco a um escrutínio. Mas o fato é que não o fiz. E, mesmo assim, veio a gritaria: “Quem é você para…?”

O que temos? Porque um ídolo é um letrista apreciado da MPB, um “poeta”, então não pode receber uma crítica de natureza política quando faz uma declaração… política? Tenham paciência! Sim, este texto integra, vamos dizer, o ambiente da gritaria que se seguiu à coluna de Diogo Mainardi na VEJA desta semana. O parágrafo que reproduzo parece dar conta, com eficiência, da questão:

Edna O’Brien conheceu “Chico” uma semana atrás, na Flip, em Paraty. Depois de participar de um debate, ela foi arrastada a um encontro entre Chico Buarque e Milton Hatoum. O que ela afirmou, assim que conseguiu escapar do encontro? Que Chico Buarque era uma fraude. O que ela afirmou em seguida, durante o jantar? Que se espantou com a empáfia e com o desconhecimento literário dos dois autores. E o que ela repetiu para mim, alguns dias mais tarde, em outro jantar, no Rio de Janeiro? Que Chico Buarque era uma fraude, que ela se espantou com sua empáfia e com seu desconhecimento literário, e que se espantou mais ainda com sua facilidade para enganar a plateia da Flip.

Qual é o ponto? Edna O’Brien era um dos medalhões da tal Feira de Livros de Paraty. Chico era outro. Resolveram juntar os dois. E ela expressou seu juízo sobre o ídolo brasileiro enquanto leitor e, sei lá como dizer, artífice da literatura. Claro, claro, pode-se dizer que a escritora irlandesa não é de nada, mas o fato é que era uma das grandes convidadas da Flip porque, no ambiente em que Chico decidiu transitar — que não é o do banquinho & violão —, ela é considerada, lamento pelos descontentes, uma autoridade.

De fato, ela foi até mais dura — e o foi publicamente: afirmou que Chico se aproveita também do fato de ser bonito, “como o Steve McQueen”. E revolveu uma polêmica de que os meios culturais brasileiros fogem como o diabo da cruz: “Música popular não é poesia. No Brasil ou em qualquer lugar do mundo”. E não é mesmo!

As reações que tenho lido são as mais estapafúrdias — como já escrevi aqui, estou apanhando por tabela porque publiquei, como faço toda semana, um trecho da coluna do Diogo. Há os nacionalistas furiosos: Edna teria sido indelicada ao falar mal de um brasileiro no Brasil! Santo Deus! Só agora me dei conta de que fui um malcriado quando falei mal de Saramago numa entrevista a uma revista cultural portuguesa! Qual é a regra geral? Devemos sempre exaltar os mitos locais por uma questão de decoro e etiqueta, é isso? Há quem afirme que Diogo bate em Chico “para aparecer”. Convenham: ele nem bateu tanto. O que fez foi reproduzir os bastidores de um encontro literário, o que deveria ser corriqueiro no jornalismo cultural se boa parte dele não vivesse de uma espécie de compadrio moral com os objetos da notícia, pautado por afinidades eletivas — isso na hipótese benevolente. Diogo também infoma que Edna está escrevendo um conto sobre “Tchico”, que recebe, na narrativa, o nome de “Harpo”. É espantoso que nenhum dos furiosos tenha comentado a provocação, que Diogo ainda faz questão de esclarecer: “Como em Harpo Marx”. Mais adiante: “Como Chico Marx”. Definitivamente, o “gauchismo” brasileiro é involuntariamente “grouchista”…

E há quem tenha observado que não podemos misturar as coisas; que Chico é, sim, um grande letrista etc. Não sei o que Diogo pensa a respeito. Jamais conversamos sobre MPB — e creio que jamais o faremos. Mas suas rimas ao violão passaram longe da coluna. O texto trata do Tchico como escritor e como personagem da cena cultural brasileira. E considera-o ao alcance da crítica terrena. Para muitos, esse foi o maior pecado da coluna de Diogo.

A indagação de uma leitora talvez expresse bem o espírito de uma época: “Diogo e você não podem suportar a existência de uma unanimidade? Vão logo partindo para o ataque? Afinal, qual o problema de vocês?”. Bem, a resposta poderia ser longuíssima, deixando claro que ele, eu ou qualquer pessoa intelectualmente honesta não damos pelota pra isso ao escrever; que esse critério não tem a menor relevância etc. Mas seria inútil. Então respondo assim:

“Isso, leitora! Você está certa! Diante das unanimidades, reivindicamos a condição de minoria. Você, como parte da maioria, não pode nos tolerar? Afinal, qual é a o seu problema?”

Fonte: Reinaldo Azevedo

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Este é o Chico Buarque, poderia ter ido morar em Cuba mas preferiu a glamourosa Paris. Mais uma evidência de que o homem tem bom gosto e se preocupa com o povo mesmo: quanto mais distante melhor. Em seus shows, o preço da entrada fixado em valores proibitivos, se encarrega de manter o povo bem distante .

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