Liberdade de Informação: e o direito que os cidadãos têm de ser informado de tudo que se relaciona com a vida do Estado, e que, por conseguinte é de seu peculiar interesse. Esse direito de informação faz parte da essência da democracia. Integra-o a liberdade de imprensa e o direito de ser informado. Artigo 5º inciso XXXIII, da Constituição Federal. Prof. Franscisco Bruno Neto.

19 de setembro de 2010

OS MORTOS PELA GUERRILHA QUE LUTAVA POR OUTRA DITADURA

Folha de S. Paulo - 3 de maio de 1998 - Caderno "Mais" A militante da ALN Lídia Guerlenda recorda como o roubo de uma pistola por guerrilheiros transformou-se em tragédia .

MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local


Lídia Guerlenda, hoje médica em Registro, no interior de São Paulo, teve um sonho em que apontava uma pistola Luger para a cabeça do delegado e torturador Sérgio Paranhos Fleury e na hora H a arma falhava.

Em 1971, quando ela e outros militantes da ALN(*)  foram roubar o revólver de dois guardas-noturnos em São Paulo, a arma dos guerrilheiros não falhou e os guardas foram mortos, como ela conta no trecho abaixo.
"Fomos expropriar um 38 de um guarda-noturno. Em Santo Amaro, numa travessinha da Granja Julieta. Sabíamos que tinha um guarda que andava armado. Antônio Carlos Bicalho Lana com a metralhadora. Uns e Outros no volante. Eu e o Portuguesinho na externa. Foi uma tragédia. O guarda achou que era um assalto à casa. Então deu uns passos pra trás em direção à porta da casa, já gritando: "Não tem nada dentro, a casa está vazia, não tem nada dentro'. Eu e o Portuguesinho, cada um com um 38, fomos pra cima render o guarda. "Mãos pra cima. Dá aqui essa arma.' O guarda não entendeu muita coisa, ficou apavorado e começou a guinchar. Eu nunca esqueço isso. Ele guinchava igual a um animal ferido. Eu e o Portuguesinho não tivemos iniciativa. O Lana percebeu a vacilada, saiu com a INA e acabou dando uma coronhada na cabeça dele. Mas ele tirou a arma e atirou. O Uns e Outros, no volante do carro com uma 9 milímetros, atirou pro lado onde ele estava e em seguida pro outro lado onde apareceu outro guarda. Eram dois irmãos. Morreram os dois. Tinham vindo do Nordeste há pouco tempo para trabalhar em São Paulo.

Entramos todos no carro e fomos embora. Nem a arma pegamos. Apavorados. Eu, porque fiquei com a arma na mão, achando que não precisava tudo aquilo. Portuguesinho também. Eu cheguei na pensão em que eu morava, guardei a arma e vomitei, vomitei e vomitei. "Ai, meu Deus do céu. Se for isso aqui, acho que não vai dar certo.' Eu orava num quarto de pensão na Sumaré. Isso ocorreu em janeiro ou fevereiro de 71. Foi uma sensação muito ruim nos dois sentidos."

(Depoimento de Lídia Guerlenda)
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(*) Ação Libertadora Nacional (ALN) foi uma organização guerrilheira, revolucionária brasileira de tendência comunista que empreendeu luta contra o regime militar no Brasil (1964-1985).

Muitos militantes, que começavam a questionar o tipo de atuação da ALN, foram desestimulados a desistir pelo, exemplo do que ocorreu com Márcio Leite Toledo, que ao questionar as ações da ALN , foi executado pelos companheiros. Para os militantes só restava um caminho: a permanência na organização até a "queda", por morte ou prisão.(http://www.averdadesufocada.com/index.php?option=com_content&task=view&id=2113&Itemid=78 )


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Fonte: http://prof.reporter.sites.uol.com.br/mariocesar.htm

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