Liberdade de Informação: e o direito que os cidadãos têm de ser informado de tudo que se relaciona com a vida do Estado, e que, por conseguinte é de seu peculiar interesse. Esse direito de informação faz parte da essência da democracia. Integra-o a liberdade de imprensa e o direito de ser informado. Artigo 5º inciso XXXIII, da Constituição Federal. Prof. Franscisco Bruno Neto.

21 de setembro de 2010

O Brasil precisa da dose de paranóia construtiva

Por Oppenheimer ANDRES
O Miami Herald, 18 de setembro de 2010

Há um consenso entre os especialistas de política externa que o Brasil é a próxima potência mundial emergente. Talvez sim, mas só se puder superar um obstáculo doméstico, potencialmente fatal: a arrogância.

Essa foi uma das principais conclusões que tirei de um painel intitulado "Brasil: uma potência em ascensão", durante o encontro "Conferência das Américas" promovido conjuntamente por Miami Herald e Banco Mundial, na semana passada, onde vários especialistas debateram se o Brasil continuará inevitavelmente a sua ascensão meteórica para o destaque mundial.

Não há dúvida de que o Brasil está enrolado, pelo menos por agora. As coisas estão indo tão bem que até o presidente Luis Inázio Lula da Silva recentemente proclamou em tom de brincadeira que "Deus é brasileiro". Este ano a economia deverá crescer de forma saudável, algo em torno de 5%(cinco por cento), o país encontrou recentemente algumas das maiores reservas mundiais de petróleo offshore (na costa marítima ), o Brasil ganhou as concorrências para se tornar o anfitrião da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que dão aos brasileiros uma oportunidade única para promover o país no exterior.

A revista Time Magazine, em um excesso de otimismo jornalístico, recentemente nomeou Lula como "a pessoa mais influente do mundo.". O semanário britânico The Economist, já havia realizado uma reportagem de capa intitulada "Brasil decola",  destacando que em algum momento nos próximos 14 anos, o Brasil deverá subir do seu status atual de oitava economia do mundo para a quinta economia, superando a Grã-Bretanha e a França.


PAÍS PREVISÍVEL

Este mês dois novos livros foram publicados nos Estados Unidos: "Brasil em ascensão", pelo repórter do New York Times Larry Rohter e o "Brasil Novo", pela Universidade Johns Hopkins, pelo professor Riordan Roett . De forma geral, eles concordam com tais projeções otimistas. No painel sobre o Brasil na Conferência das Américas, os participantes salientaram que o Brasil tornou-se finalmente um país previsível, onde os governos sucessivamente mantiveram políticas econômicas nos últimos 16 anos, gerando confiança e um quadro crescente de investimentos nacionais e estrangeiros.

Isso não vai mudar após as eleições presidenciais do próximo mês, que provavelmente será vencida pela candidata do partido de Lula, Dilma Rousseff. Vários palestrantes apontaram para os perigos potenciais, incluindo uma infra-estrutura ultrapassada, e os níveis de educação deficiente. Alguns advertiram que se o PT, partido do governo, ganhar de forma contundente, pode tornar-se tão confiante ao ponto de ressuscitar as políticas nacionalistas-estatistas do passado, e que Dilma Rousseff, se eleita, pode não ter o carisma de Lula para conter os ultra-esquerdistas de dentro do partido.

"Uma coisa que me preocupa um pouco é que eu vejo no Partido dos Trabalhadores um pouco de triunfalismo", disse Rohter, que foi um dos painelistas. "Há quase um orgulho, um sentimento de que inventaram a roda, e nenhuma vontade de reconhecer o papel que o boom das commodities tem desempenhado para o sucesso dos últimos 16 anos. Isso está levando alguns setores do partido a pensar que o Brasil pode continuar crescendo sem investimentos estrangeiros em áreas fundamentais, como o petróleo e agricultura.".


POPULAÇÃO TRANQUILA

Perguntei a Rohter se a arrogância vai inviabilizar os recentes progressos do Brasil? Ele disse que duvida, porque apesar do triunfalismo de alguns setores do governo, a população do Brasil continua tranquila, se não cética. Rohter diz que uma das coisas saudáveis que aconteceu é que os brasileiros não estão mais falando sobre o Brasil como "país do futuro", mas como a quinta potência. Isso é um objetivo muito mais realista.


Minha opinião: Eu espero que Rohter esteja certo, porque uma das coisas que eu observei em minhas viagens recentes a China e a Índia é que as duas potências mundiais emergentes têm uma coisa em comum: a crença generalizada de que eles estão atrás de outras potências mundiais praticamente em tudo. Em quase todas as entrevistas com os funcionários chineses e indianos, fiquei impressionado com a preocupação de que seus respectivos países não estão a expandir sua educação, ciência e tecnologia mais rápido que outros países, e que eles estão ficando para trás. Eu não vi a mesma humildade em entrevistas com autoridades brasileiras.

Os chineses e os indianos têm uma saudável dose de paranóia construtiva, que leva a melhorar constantemente a si próprios. A menos que o Brasil adote a mesma atitude e evite o comodismo,  tido como inevitavel, e que pode resultar de tantas profecias sobre as origens do Brasil, nunca se tornará uma potência mundial emergente de verdade. 

Fonte: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/09/o-ego-inflado-do-brasil-ja-se-sabe-por.html
Original em inglês: Miami Herald

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