Liberdade de Informação: e o direito que os cidadãos têm de ser informado de tudo que se relaciona com a vida do Estado, e que, por conseguinte é de seu peculiar interesse. Esse direito de informação faz parte da essência da democracia. Integra-o a liberdade de imprensa e o direito de ser informado. Artigo 5º inciso XXXIII, da Constituição Federal. Prof. Franscisco Bruno Neto.

19 de setembro de 2010

O MITO DO SOCIALISMO DE MERCADO NA CHINA



Falácias acadêmicas, 13:
o mito do socialismo de mercado na China
Paulo Roberto de Almeida

Resumo: Discussão sobre a pretensa condição da China como economia “socialista de mercado”, considerada uma falácia para legitimar a autocracia política do Partido Comunista, ativamente engajado na transição ao capitalismo. Breve exame da trajetória chinesa desde a inauguração do regime comunista, em 1949, com uma pequena estatística das perdas humanas ao longo do processo, e das transformações incorridas desde a decisão de fazer a China
caminhar em direção ao capitalismo.

1. Introdução: uma falácia legitimadora da transição ao capitalismo Sessenta anos atrás, no primeiro dia do mês de outubro de 1949, Mao Tse-tung, líder dos comunistas chineses, anunciava a fundação  da República Popular da China, no seguimento da expulsão das tropas do general nacionalista Chiang Kai-chek do continente, depois de anos de guerra civil, dando início, assim, a um novo tipo de comando político na longa série histórica das dinastias chinesas. Depois de 4 mil anos de regime imperial e de algumas poucas décadas de sistema republicano anárquico, a partir de 1911, a China  começou a experimentar um novo tipo de monarquia absoluta: a comunista. Na verdade, nada de muito diferente, enfim, em relação aos tipos tradicionais de ‘despotismo oriental’ que sempre caracterizaram o assim chamado ‘Império do meio’.

De fato, as mudanças no plano político não foram tão importantes quanto a radical alteração no sistema econômico da velha China: a autocracia, temporariamente interrompida pelo experimento caótico da República de Sun Yat-sen, apenas continuou sua marcha ininterrupta, provavelmente intensificada, em direção a mais autocracia. Quanto ao sistema econômico, a China estava prestes a embarcar num dos mais espetaculares desastres econômicos já conhecidos na história humana: o modo socialista de produção, inteiramente concebido e implementado por homens de boa vontade (ainda que de vontade férrea, como convém a devotos convencidos).

Com efeito, se outros experimentos centralizadores e concentradores no domínio econômico também produziram pequenas e grandes catástrofes – como os sistemas fascistas do entre guerras, bem como o próprio socialismo soviético, convertido em escravismo moderno desde o início da industrialização forçada de Stalin – ao longo de suas histórias respectivas, poucas aventuras humanas igualaram o monumental fracasso econômico e social que foi o experimento socialista chinês, em sua modalidade específica de maoísmo delirante. A questão tem a ver mais com a dimensão própria da China – quase um quinto da humanidade e, até o século 18, praticamente um terço do PIB mundial – do que propriamente com a natureza do experimento, que seguia, em princípio, as recomendações marxistas e leninistas aplicáveis a essa espécie de aventura política, social e econômica.

Os historiadores – e os demógrafos, naturalmente – ainda não possuem os números definitivos, mas é provável que a trajetória maoísta no novo império socialista tenha provocado – entre mortes ‘morridas’ e mortes ‘matadas’ – algo como 50 a 60 milhões de vítimas, o que faz de Mao Tse-tung o campeão absoluto no registro das mortandades provocadas pelo homem ao longo do século 20, bem à frente de Hitler e de Stalin. Entre os mortos de fome e por canibalismo do “grande salto para a frente”, entre o final  dos anos 1950 e começo dos 60, passando pelos assassinados e massacrados da revolução cultural, de meados dessa década, e todos os encarcerados e reprimidos do Gulag chinês ao longo de 30 anos, o maoísmo conseguiu drenar como poucas dinastias antigas as veias da sociedade chinesa, mais em todo caso do que todas as hordas de hunos, de Gengis Khan a Tamerlão e outros bárbaros menos famosos (a popularidade deles sempre dependeu de Hollywood, como se sabe). (1)

(1 ) Uma tentativa de balanço, certamente ainda não definitiva até abertura dos arquivos do regime comunista chinês e até trabalhos mais acurados dos demógrafos profissionais, do custo humano do experimento comunista na China foi efetuada por Jean-Louis Margolin, no capítulo “Chine: une longue marche dans la nuit”, In: Stéphane Courtois et alii (orgs.), Le Livre noir du communisme(O Livro Negro do Comunismo). Crimes, terreur, répression (Paris: Robert Laffont, 1997).

Não é o caso de explicitar agora a longa sucessão de desastres que representou o  socialismo chinês, pois o que está em causa, aqui, é o mito do socialismo de mercado, explicitamente defendido como o modelo ideal pelos novos mandarins e, ....
 
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Texto integral em PDF: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8295/4691
 
Fonte: http://www.pralmeida.org/

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