Liberdade de Informação: e o direito que os cidadãos têm de ser informado de tudo que se relaciona com a vida do Estado, e que, por conseguinte é de seu peculiar interesse. Esse direito de informação faz parte da essência da democracia. Integra-o a liberdade de imprensa e o direito de ser informado. Artigo 5º inciso XXXIII, da Constituição Federal. Prof. Franscisco Bruno Neto.

7 de outubro de 2010

ABORTO OU ERENICE? ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE IMPRENSA. OU: “É O JORNALISMO, IDIOTA!”

Eis um post que é de interesse geral; mas ouso dizer que interessa especialmente aos jornalistas e ao jornalismo.

*
Reinaldo Azevedo

Vou reproduzir aqui, em azul, um pequeno post que escrevi no domingo, quando ficou claro que haveria segundo turno. Leiam ou releiam com bastante atenção. Volto em seguida.

Como não cansei de escrever aqui, eu nunca soube se iria haver segundo turno ou não; continuo a não saber quem vai vencer as eleições presidenciais. “Eles” sempre souberam, não é mesmo? Eles sempre estiveram convictos de tudo.

Depois escreverei com mais vagar a respeito disso tudo, mas os arquivos estão por aí: as previsões dos “especialistas” falavam em até 20 pontos de vantagem para Dilma. Institutos de pesquisa chegaram a se comportar como verdadeiras quadrilhas.

“Violação de sigilo não tem importância”, dizia um. “Erenice não muda nada”, dizia outro. Agora, muitos estão em busca de uma desculpa: os evangélicos e a opinião de Dilma sobre o aborto teriam definido o segundo turno… Talvez fosse mais prudente admitir: erramos.

Aqui e ali, as pesquisas acertaram. Na média, houve um naufrágio. É preciso pensar sobre as causas. Teremos tempo de falar sobre essas coisas todas. O fato é: “eles” erraram.

Voltei
Eu levo uma ligeira vantagem em relação a alguns coleguinhas — não a todos, mas a alguns: tenho memória. Quem inventou a pauta “religião-voto-aborto” foi o PT. No dia 23 de agosto, Dilma lançou a ridícula “Carta ao Povo de Deus”, onde se podia ler o seguinte:

“Cabe ao Congresso Nacional a função básica de encontrar o ponto de equilíbrio nas posições que envolvam valores éticos e fundamentais, muitas vezes contraditórios, como aborto, formação familiar, uniões estáveis e outros temas relevantes, tanto para as minorias como para toda sociedade brasileira”.

Vale dizer: ela supostamente não pensava nada a respeito; o Congresso que decidisse. Mas todos, na imprensa, sabiam que ela já havia se posicionado sobre o tema. Silêncio!!! Não sei se fui o único, mas certamente terei sido dos poucos, a lembrar o que ela de fato pensava sobre o aborto. A “polêmica” não havia se instalado ainda. Com a perspectiva de ser eleita e de ter uma maioria folgada no Congresso, os religiosos — que alguns ateus crêem menos inteligentes do que seu pares — somaram dois mais dois e chegaram à legalização do aborto. Conta simples, de somar apenas.

Escândalos

Já se vivia em meio às evidências de violação de sigilo. O escândalo Erenice viria logo em seguida, com um caso gravíssimo denunciado pela VEJA e outro, logo depois, pela Folha. E os “analistas” não se fartavam: “Não muda nada! O eleitor não quer saber disso!” Houve até um que desenvolveu o gênero “lirismo existencialista de boteco”. Estava numa birosca, onde se vende a comida baratinha que os “ruralistas” combatidos pelo MST, cujo boné Dilma põe na cabeça, produzem. Dizia ele que o Jornal Nacional noticiava os escândalos, mas ninguém ali dava bola — com a exceção, entendi, dele próprio. Não sei se alcancei o texto em sua extensão, mas me parecia que se dizia ali que o jornalismo investigativo, quando o PT era o investigado, tornava-se irrelevante. Como é mesmo o clichê? “É a economia, idiota!” — uma crença bem diferente da deste escriba, que dirá sempre: “É a política, idiota!”

Justiça se faça, o próprio Datafolha chegou a detectar uma certa mudança de humor do eleitorado, embora eu tenha a impressão de que não acreditou no próprio taco. Mas os “analistas” não se davam por vencidos porque a realidade contestava a doxa a que quase todos haviam se agarrado, com algumas exceções: para não lembrar a prata da casa, cito a excelente Dora Kramer, no Estadão, que nunca entrou na onda. A que atribuir a mudança de “última hora”? Aos escândalos? Não! Afinal, a sociedade dos consumidores não daria bola para isso!

Surgiu, então, a hipótese da migração do voto evangélico, uma tese que contentava o PT — porque, afinal, o partido prefere que não se fale de seu estoque moral — e também os “analistas” e “especialistas em pesquisa”, que haviam assegurado a vitória de Dilma no primeiro turno, com contas até bem precisas: oito ou nove milhões teriam de mudar seu voto em uma semana ou sei lá o quê, coisa que davam como impossível.

Assim, o voto evangélico entrou como uma espécie de fator exógeno, “artificial” (como diz o pró-legalização do aborto José Eduardo Cardozo), a forçar uma mudança de posição do eleitorado. Poucos perceberam que se estava diante de um grande movimento de autojustificação, que poderia ser sintetizado assim: “Nós estávamos certos! Nem Receita nem Erenice! O jornalismo continua irrelevante. A mudança que está aí foi decidida pelos evangélicos”.

Isso é tão verdadeiro que o Datafolha, justamente o instituto que detectou a mudança de humor do eleitorado, jogou fora o seu próprio achado para se fixar nessa hipótese, registrando no TSE uma pesquisa eleitoral como nunca se fez na história destepaiz: não quer saber apenas em quem o brasileiro vai votar, não; pergunta também se o faz sob a influência de alguma confissão religiosa — e quer saber de qual: docemente inquisitorial; involuntariamente persecutório.

Tiro pela culatra

O PT está acostumado a sair como vítima das situações em que é originalmente algoz. Pegue-se o caso exemplar da Receita. A partir de um certo momento, era o tucano José Serra quem se via na contingência de responder se não estaria fazendo baixa exploração política do episódio; de vítima, passava a culpado! Um escândalo ético que entrará para os anais do jornalismo.

No caso do aborto e do voto evangélico, o partido ...

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